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Recomendo
Este livro tenta tenta ser duas coisas ao mesmo tempo: uma novela, com diálogos e todas as suas características, e um livro teórico-educativo sobre variação linguística apresentando o tema e as causas dos preconceitos linguísticos presentes na língua portuguesa falada no Brasil. Como livro-tese, é muito bem executado e elucidativo, já como novela... Entendo que Bagno tenha usado a narrativa como ferramenta de interesse, mas o fato é que o efeito é justamente o contrário: os diálogos são truncadíssimos pela necessidade de exposição das opiniões do autor e suas reflexões, que muitas vezes poderiam passar como subentendidas e ter um melhor efeito. Por vezes uma personagem é descrita fazendo algo completamente insignificante como 'Irene tomou um chá' apenas para lembrar que se trata de uma cena, e não de um texto puramente argumentativo, o que automaticamente torna todas as personagens e contextos completamente insignificantes, exceto talvez pelo significado das suas profissões. Por fim, A Língua de Eulália é um livro com uma premissa muito interessante (a dupla abordagem) e com um tema que me parece academicamente importante, contudo a falta de apreço, criatividade e capricho na narrativa faz questionar a própria razão de ela estar lá. Não seria mais prático fazer um livro técnico já que a liricidade da narrativa fica totalmente mecanizada e instrumentalizada à proposta de ser educacional? Há partes tão mecânicas nos diálogos, mas tão mecânicas e forçadas que as perguntas das personagens parecem subtítulos disfarçados, porque o pensamento do autor precisava continuar naquela direção, ou seja, as perguntas são sempre tendenciosas, e as alunas nunca levantam questionamentos autênticos, pois são personagens descaracterizadas, apenas máscaras para o diálogo platônico que o autor propôe como forma de trazer o seu discurso. Por não se comprometer com um ou outro tipos de texto, Bagno acaba atrapalhando os dois.
Marcos
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